Representantes de vários credos pedem criação de um plano nacional de combate à intolerância religiosa.
Rio – Uma caminhada livre de preconceitos. Por mais de três horas, ciganos se juntaram a budistas, que dançaram com wiccanos e praticantes de candomblé. Neste domingo, a orla de Copacana ficou tomada por mais de cinco mil pessoas na Sexta Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Apesar do clima de harmonia, representantes de dezenas de religiões tinham demandas sérias, como a implementação do plano nacional de combate à intolerância religiosa.
O sol forte que acompanhou a passeata não espantou nem os religiosos mais paramentados. Embaixo da roupa social e de capas, membros da Ordem DeMolay – que apoia a maçonaria – pediram o fim do preconceito. “Quando nos unimos a outras religiões, somos mais fortes e podemos conquistar de vez a liberdade”, declarou Raphael Verdan, de 20 anos.
No ato religioso deste ano, os budistas compareceram em peso. Havia mais de 300 seguidores da religião — pelo menos o dobro em relação à edição anterior — que vieram de três estados do Brasil. O monge Oliveira viajou do Paraná só para participar da caminhada.
“Também sofremos preconceitos e aproveitamos o engajamento do Rio para mostrar que todos somos irmãos”, contou o monge. Vítima da intolerância onde pratica o candomblé, em Duque de Caxias, a mãe de santo Nari de Oxum foi ao evento para recarregar as energias. “Essa união é linda. Quem dera se todos seguissem esse exemplo de harmonia”, disse Nari, que por várias vezes foi impedida de realizar atos religiosos no seu terreiro.
“Os vizinhos não me aceitam. Quando fazemos festas para os orixás, eles colocam caixas de som na direção da nossa casa para atrapalhar”, completou. No fim da passeata, ainda reunidos na orla de Copacabana, o público assitiu a shows dos cantores Dudu Nobre, Marcelinho Moreira e do Grupo Jaqueira.
Pedido foi entregue a Lula em 2008
As caminhadas em Defesa da Liberdade Religiosa começaram em 2008, quando um grupo de fiéis da umbanda e candomblé foi expulso de uma comunidade na Ilha do Governador por traficantes que seriam ligados a grupos evangélicos. Representantes de grupos religiosos protestaram na escadaria da Alerj e, em seguida, deram início às caminhadas.
A luta pela implantação do plano nacional de combate à intolerância religiosa é antiga e demanda prioritária da caminhada desde sua criação, há seis anos. Um estudo para criação deste plano foi entregue à Presidência da República em 2008 mas até hoje não entrou em prática. A sua principal pauta é uma punição mais rigorosa à perseguição religiosa.
Na caminhada, a Comissão de Combate à Intolerância, organizadora do evento, também pediu a implementação da lei que institui os ensinos das histórias e culturas da África nas escolas brasileiras.
Fonte: O Dia.